sexta-feira, 4 de junho de 2021

Desabamento na favela: crônica de uma tragédia anunciada

A história da construção irregular, onde mora uma família pobre, que sofre colapso estrutural repentino, tristemente se repete. Um prédio de quatro pavimentos ruiu na manhã desta quinta 3, feriado de Corpus Christi, em Rio das Pedras, uma extensa região favelizada da Baixada de Jacarepaguá onde o solo ruim propicia em muito esse tipo de acidente. A área do desabamento é próxima à Lagoa da Tijuca e do Residencial Delfin Imobiliária, conjunto de quase mil apartamentos deixado inacabado pela incorporadora e invadido em 1991 por moradores da favela. Na época, o governador Leonel Brizola, a contragosto, teve que garantir a desocupação dos imóveis, que não possuíam habite-se. Avaliou-se que os cinco edifícios corriam risco de ceder, embora estejam de pé até hoje.

Neste local, é comum algumas construções afundarem no terreno, progressivamente, por ação do peso próprio, levando os moradores a construírem novas lajes para recompor a área perdida dos pisos soterrados.

Pouco mais de dois anos atrás, em abril de 2019, dois prédios desabaram na Muzema, outra área de ocupação irregular, no Itanhangá, distante cerca de três quilômetros. Grupos de milicianos estão por trás das construções erguidas sem projeto, sem acompanhamento técnico e sem licenciamento, com a fiscalização da prefeitura passando longe.

A omissão do poder público, fomentada pelo assistencialismo promovido pelos políticos interessados no voto fácil dos menos favorecidos, vem promovendo novas invasões e inchando as já existentes de longa data, mas este processo sofreu um substancial incremento após a adoção da filosofia do 'favela não é problema, é solução', de Darcy Ribeiro, que foi vice de Brizola.

Se toca as pessoas a preocupação com lugares como a Amazônia, sob o aspecto da preservação de mananciais e a regulação da temperatura, por que não pensar desta mesma forma em escala menor, para as nossas cidades? O Rio de Janeiro não merece o que se está fazendo com um de seus maiores patrimônios, que são justamente as florestas e as áreas de mata. A sociedade precisa se mobilizar, sem demagogia e sem falsa compaixão, para atacar esse grave problema.