sábado, 15 de setembro de 2012

Por uma cidade nova e realmente melhor

  
O Rio precisa escolher 'civilizar-se', tal como ocorreu na época de Pereira Passos, que empreendeu modernizações necessárias e, sobretudo, benéficas à cidade. Hoje, civilizar-se pode ser compreendido como atuar firmemente no combate e eliminação gradativa das favelas, com o intuito de proporcionar vida de fato digna às pessoas que habitam nos barracos (mesmo as construções de alvenaria, até no linguajar da favela, são barracos), independentemente de ser 'urbanizada' ou não a sua vizinhança. Errado é manter a favela, forçando um convívio entre o legal e o ilegal, entre a cidade reta e a cidade errada, entre a urbe sadia e o câncer urbano, que só cresce, sem que haja autoridade que se mostre corajosa para reprimir sua expansão.

É inadmissível que uma cidade que ganhou mares, pântanos e planícies conquistadas aos morros, como as orlas do Centro, do Flamengo, de Botafogo e de Copacabana, as áreas do Largo da Carioca e do Passeio Público, ou as esplanadas do Castelo e de Santo Antônio, se ponha refém de ocupações notoriamente irregulares e nada faça para extigui-las. Extinção que, ao contrário do que a má política social clientelista faz parecer, só visa a beneficiar os favelados, transferindo-os para locais onde possam viver com a dignidade que uma favela maquiada não permite.

Contra a remoção e o reassentamento, há defensores clássicos, que trabalham o ódio a essas ideias nas cabeças dos moradores das favelas, escorado em conhecidas ladainhas sem sentido. O discurso da cobiça da especulação imobiliária, a propósito, faz tempo que está puído e mostrando, de tão roto, que nenhum argumento lógico sustenta debaixo de si. Está na moda, também, a ideia da 'função social da terra', sob cuja égide grupos com interesses inconfessáveis vêm tentando sensibilizar o meio político e as cortes do país para que mantenham intocadas áreas devastadas pela favelização.

Uma outra retórica sentimentalista, ainda, a de que as pessoas têm décadas de vida e gerações inteiras criadas nesses locais, esconde, por sua vez, o raciocínio perverso do 'deixar como está', porque é cômodo a favelados e 'favelistas'. Senão, vejamos: sob o ponto de vista desses últimos, o porteiro de Copacabana e a empregada doméstica de Ipanema precisam morar no Pavãozinho, na Ladeira dos Tabajaras (onde um operário, que construía um barraco sobre o emboque do Túnel Alaor Prata, teve um vergalhão trespassado pelo pescoço, há dois dias), no Vidigal ou na Rocinha, porque é perto do trabalho e o transporte é ruim, considerados possíveis outros locais mais distantes onde suas rendas lhes permitissem morar. Indiretamente, esse argumento nega a essas pessoas o direito de morar melhor e, até mesmo, o sonho de estudar mais e almejar outras profissões mais rendosas, confinando-os ao conformismo - notoriamente eleitoreiro - de permanecer por perto para que deles se possa servir melhor, morando em condições que esses mesmos favelistas certamente não quereriam para si mesmos.

Um sistema de transportes decente, bem delineado e bem operado, junto a uma política de desadensamento da cidade, são os verdadeiros caminhos para permitir que se possa morar em bairros planejados, bem estruturados sob todos os aspectos, trabalhando-se em outras regiões, sem que haja a necessidade imperiosa de que guardem proximidade. Qualidade de vida é um conceito que encerra essa prerrogativa.

Na verdade, ao privilegiar a favela e não permitir o desadensamento que remoções bem planejadas poderiam proporcionar, forçando uma instalação definitiva em áreas mal ocupadas que, como se sabe, incharam irregularmente, o Poder Público e entidades que, pretensamente, defendem o bem-estar dos favelados impingem um 'efeito Rexona' ('sempre cabe mais um') de consequências danosas a toda a cidade, que faz com que todos, sem exceção, venham a morar e viver cada vez pior.

Ambientalmente, vivemos hoje cada vez mais a mesma necessidade urgente de proteção de mananciais experimentada na época das fazendas de café, quando a devastação nos morros cariocas mostrou-se igualmente grave. Antes, foram os cafezais; hoje, são as favelas. Queremos continuar destruindo a riqueza que nos proporciona bem viver e que nos deu a primazia do título de Patrimônio Mundial como paisagem cultural urbana? Para quê? Para não ferir os sentimentos da gente trabalhadora que - em meio a uma horda de aproveitadores que orbita ao redor - habita os guetos cariocas? Para sermos politicamente corretos com os 'hipossuficientes'?

Desfavelizar, contrariando a medíocre ótica socialista, é um pensamento progressista. Mudar a cidade, sim. Para melhor!


Boa Tarde, Rio!